Muitas vezes é necessário haver uma lacuna no tempo, um recomeço ou apenas mais um passo para que eu consiga escrever. As palavras fogem de mim e me tomam ao mesmo tempo. É um ir e vir que não cessa, que não me liberta. Já dizia Marcelino Freire: eu escrevo porque algo me dói. E é uma dor que vem e vai embora. A todo momento. Toda dor te deixa frágil a ponto de você perder a capacidade de se encontrar novamente. Há uma fronteira líquida entre a dor e o desastre físico e mental. Eles se misturam o tempo todo. A gente se pergunta o que há de errado conosco e com os outros. O que há de errado? Porque tudo me parece confuso. Não encontro chão abaixo de mim. O que me segura são os momentos de pré-dor, pré-sofrimento, pré-tristeza. O que me salva do caos interno é um certo alguém que estava lá no lugar certo e no momento certo. Mas nada garante minha sobrevivência a esse mundo. Sou inconformada. Sou iludida. Minha dor está apoiada nessas duas palavras. O meu descontentamento com o mundo é gigantesco. Quais são as regras? Não importa o quanto você queira se encaixar a um padrão de comportamento exigido pelo outro, você simplesmente não consegue. Você aprende que quem te ama de verdade tem que te aceitar como você é. Como é difícil aceitar! É impossível amar incondicionalmente? Eu sempre achei que não. Mas mudei de ideia, graças às regras desse mundo. Ao mesmo tempo, você não deve se aceitar. Você deve lutar pela mudança. Dentro de si mesmo... O que resta? Encontrar alguém paciente o bastante para compreender o processo de mudança e aceitar que ninguém pode mudar totalmente. Isso gera um conflito dentro de nós. Como posso mudar se o outro não me dá a chance do processo? Mãos atadas. Só resta desistir. Só resta recomeçar, sabendo que a dor vai e vem. Numa manhã qualquer, ela acaba. E, depois, manifestam-se outras dores.
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