"Não te dizer o que eu penso
Já é pensar em dizer
E isso, eu vi
O vento leva
Não sei mais
Sinto que é como sonhar
Que o esforço pra lembrar
É a vontade de esquecer
(...)
Um século, três
Se as vidas atrás
São parte de nós
E como será?"
(O vento - Los Hermanos)
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Amor completo (Ique Carvalho)
Hoje um cara perguntou:
“Ique, eu vi que você escreveu alguns textos
para uma campanha de dia dos namorados.
Eu acho o amor tão complicado.
Ainda mais nesse mundo cheio de regras e exigências.
Não é uma crítica, mas a campanha chama AMOR COMPLETO,
mas, em nenhum dos textos você respondeu o que é esse tal amor completo?”
Em junho de 2013,
poucos dias antes do dia dos namorados,
minha namorada terminou comigo.
Eu fiquei sem entender.
Voltei pra casa e durante todo o caminho me perguntava:
“Por que?”.
A única coisa que vinha na minha cabeça
era a voz dela dizendo:
“Eu amo você”.
Eu passei um mês sofrendo
procurando respostas para o que estava acontecendo.
Um dia, entrei no quarto do meu pai chorando e perguntei:
“Pai, ela dizia que me amava.
Então, por que ela terminou comigo?”.
Ele respondeu:
“Meu filho,
Quando alguém entra na sua vida
e depois de algum tempo vai embora,
pode ser qualquer coisa
menos amor”.
Eu disse:
“Não da para entender.
Um dia, existe amor e no outro tudo acabou”.
Ele respondeu:
“Você nunca vai superar seus traumas
se continuar procurando no amor uma lógica.
Construa uma nova história”.
Eu perguntei:
“E de onde vem essa força pra começar algo novo?”
Ele respondeu:
“Não se preocupe com isso.
Todo começo vem de um final”.
Uma semana depois,
meu pai foi diagnosticado com uma doença rara e degenerativa
que iria matá-lo em alguns dias.
Minha mãe não o abandonou.
Ela ficou.
Meu pai saia toda sexta para comer pizza com dois irmãos.
Quando ele parou de andar,
meus tios começaram a trazer a pizza aqui em casa.
Eles diziam:
“Sem o seu pai, não tem graça”.
E ficavam a noite inteira dando gargalhadas.
Hoje, meu pai não consegue mais comer.
Mesmo assim, toda sexta meus tios passam aqui em casa.
Meu pai estudou em Ouro Preto-MG.
Na formatura ele combinou com três amigos
de se encontrarem de cinco em cinco anos.
Este ano, meu pai não pode ir porque ele não anda mais.
Os amigos dele saíram do interior de Minas e vieram até aqui em casa.
Todo formando tem uma foto pregada na parede
na república que estudou.
Os amigos do meu pai trouxeram a foto dos quatro.
Pregaram a foto de cada um na parede do quarto e disseram:
“Agora, a nossa república é a sua casa”.
E combinaram que daqui cinco anos estariam de volta.
Meu pai chorou.
Meus pais completaram 47 anos de casados dia 2 de junho.
Eles sempre dançaram nesse dia.
Meu pai não consegue mais se levantar.
Minha mãe entrou no quarto
e colocou a música que eles dançavam.
Ela disse:
“Meu filho, traz a cadeira de rodas”.
Eu perguntei:
“O que você vai fazer?”
Ela respondeu:
“Vou fazer o que seu pai faria por mim”.
Eu busquei a cadeira de rodas.
Minha mãe colocou meu pai na cadeira.
Ela ajoelhou ao lado dele
e disse:
“Vamos dançar”.
Abraçou meu pai e fez a cadeira girar.
Ela ficou ajoelhada a música toda.
Meu pai chorava e ria ao mesmo tempo.
Eles ficaram ali dançando e se divertindo.
Eu voltei pro meu quarto chorando.
Abri o notebook e resolvi escrever esse texto.
Porque eu vejo o mundo distorcendo
ou complicando demais o amor.
Um monte de gente dizendo
fique com alguém que faz isso, que faz aquilo,
que te de isso, que não sei o que mais.
Esse monte de regras e exigências,
são coisas criadas pela cabeça.
E, meu velho, não sei se você sabe
mas o amor é criado pelo coração.
O resto, é ilusão.
Então, acredite.
O amor, amor completo
é quando você quer o outro sempre perto.
Só isso.
“Ique, eu vi que você escreveu alguns textos
para uma campanha de dia dos namorados.
Eu acho o amor tão complicado.
Ainda mais nesse mundo cheio de regras e exigências.
Não é uma crítica, mas a campanha chama AMOR COMPLETO,
mas, em nenhum dos textos você respondeu o que é esse tal amor completo?”
Em junho de 2013,
poucos dias antes do dia dos namorados,
minha namorada terminou comigo.
Eu fiquei sem entender.
Voltei pra casa e durante todo o caminho me perguntava:
“Por que?”.
A única coisa que vinha na minha cabeça
era a voz dela dizendo:
“Eu amo você”.
Eu passei um mês sofrendo
procurando respostas para o que estava acontecendo.
Um dia, entrei no quarto do meu pai chorando e perguntei:
“Pai, ela dizia que me amava.
Então, por que ela terminou comigo?”.
Ele respondeu:
“Meu filho,
Quando alguém entra na sua vida
e depois de algum tempo vai embora,
pode ser qualquer coisa
menos amor”.
Eu disse:
“Não da para entender.
Um dia, existe amor e no outro tudo acabou”.
Ele respondeu:
“Você nunca vai superar seus traumas
se continuar procurando no amor uma lógica.
Construa uma nova história”.
Eu perguntei:
“E de onde vem essa força pra começar algo novo?”
Ele respondeu:
“Não se preocupe com isso.
Todo começo vem de um final”.
Uma semana depois,
meu pai foi diagnosticado com uma doença rara e degenerativa
que iria matá-lo em alguns dias.
Minha mãe não o abandonou.
Ela ficou.
Meu pai saia toda sexta para comer pizza com dois irmãos.
Quando ele parou de andar,
meus tios começaram a trazer a pizza aqui em casa.
Eles diziam:
“Sem o seu pai, não tem graça”.
E ficavam a noite inteira dando gargalhadas.
Hoje, meu pai não consegue mais comer.
Mesmo assim, toda sexta meus tios passam aqui em casa.
Meu pai estudou em Ouro Preto-MG.
Na formatura ele combinou com três amigos
de se encontrarem de cinco em cinco anos.
Este ano, meu pai não pode ir porque ele não anda mais.
Os amigos dele saíram do interior de Minas e vieram até aqui em casa.
Todo formando tem uma foto pregada na parede
na república que estudou.
Os amigos do meu pai trouxeram a foto dos quatro.
Pregaram a foto de cada um na parede do quarto e disseram:
“Agora, a nossa república é a sua casa”.
E combinaram que daqui cinco anos estariam de volta.
Meu pai chorou.
Meus pais completaram 47 anos de casados dia 2 de junho.
Eles sempre dançaram nesse dia.
Meu pai não consegue mais se levantar.
Minha mãe entrou no quarto
e colocou a música que eles dançavam.
Ela disse:
“Meu filho, traz a cadeira de rodas”.
Eu perguntei:
“O que você vai fazer?”
Ela respondeu:
“Vou fazer o que seu pai faria por mim”.
Eu busquei a cadeira de rodas.
Minha mãe colocou meu pai na cadeira.
Ela ajoelhou ao lado dele
e disse:
“Vamos dançar”.
Abraçou meu pai e fez a cadeira girar.
Ela ficou ajoelhada a música toda.
Meu pai chorava e ria ao mesmo tempo.
Eles ficaram ali dançando e se divertindo.
Eu voltei pro meu quarto chorando.
Abri o notebook e resolvi escrever esse texto.
Porque eu vejo o mundo distorcendo
ou complicando demais o amor.
Um monte de gente dizendo
fique com alguém que faz isso, que faz aquilo,
que te de isso, que não sei o que mais.
Esse monte de regras e exigências,
são coisas criadas pela cabeça.
E, meu velho, não sei se você sabe
mas o amor é criado pelo coração.
O resto, é ilusão.
Então, acredite.
O amor, amor completo
é quando você quer o outro sempre perto.
Só isso.
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Coisas que nenhum mineiro te contou (Luana Simonini)
Ser mineiro é comer quieto o fim das palavras. Mineiro que é mineiro tem fome de sílaba e deve ser por isso que guarda dentro do peito poemas inteiros. Entre tantas letras embaralhadas, o vagão das ideias se perde e a coisa vira trem, ou o trem vira coisa.
É, o trem tá feio.
Ser mineiro é escutar no silêncio uma prosa bonita e musicar em sotaque frases curtas. O mineiro não fala, ele canta com um sorriso tímido no canto da boca.
Nem todo mineiro é tímido, mas todo mineiro carrega o charme da timidez. Das bochechas coradas, do sorriso amarelo que ganha novas cores num piscar de olhos abertos, bem abertos.
Mineiro parece não gostar de elogio, mas gosta, pode apostar. Sempre retruca, mas cá dentro tá todo feliz.
São seus olhos. Ele diz.
Mineiro se esconde em suas montanhas, mas desmorona em abraço apertado. Chora água doce e se derrama em cachoeira.
Ser mineiro é fazer da cozinha a melhor parte da casa. Receber os amigos com mesa farta. Mineiro tem mesmo fome seja de letra ou de amor.
O mineiro não se apaixona “pelas” pessoas e, sim, “com” as pessoas. Ser mineiro é sentir as coisas sem dar nome. É se confundir entre dois ou três beijinhos quando conhece alguém.
São três pra casar.
Ser mineiro é passar a noite inteira em um ônibus e ainda não sair de Minas. As montanhas parecem continentes, mas fazem tudo parecer pertim.
É logo ali.
Nunca confie em um “ali” de mineiro.
De resto, pode confiar. Seja nas reticências que ele não diz ou nos versos dos seus poemas inteiros.
Ser mineiro é saber que as melhores coisas da vida não são coisas.
É, o trem tá feio.
Ser mineiro é escutar no silêncio uma prosa bonita e musicar em sotaque frases curtas. O mineiro não fala, ele canta com um sorriso tímido no canto da boca.
Nem todo mineiro é tímido, mas todo mineiro carrega o charme da timidez. Das bochechas coradas, do sorriso amarelo que ganha novas cores num piscar de olhos abertos, bem abertos.
Mineiro parece não gostar de elogio, mas gosta, pode apostar. Sempre retruca, mas cá dentro tá todo feliz.
São seus olhos. Ele diz.
Mineiro se esconde em suas montanhas, mas desmorona em abraço apertado. Chora água doce e se derrama em cachoeira.
Ser mineiro é fazer da cozinha a melhor parte da casa. Receber os amigos com mesa farta. Mineiro tem mesmo fome seja de letra ou de amor.
O mineiro não se apaixona “pelas” pessoas e, sim, “com” as pessoas. Ser mineiro é sentir as coisas sem dar nome. É se confundir entre dois ou três beijinhos quando conhece alguém.
São três pra casar.
Ser mineiro é passar a noite inteira em um ônibus e ainda não sair de Minas. As montanhas parecem continentes, mas fazem tudo parecer pertim.
É logo ali.
Nunca confie em um “ali” de mineiro.
De resto, pode confiar. Seja nas reticências que ele não diz ou nos versos dos seus poemas inteiros.
Ser mineiro é saber que as melhores coisas da vida não são coisas.
domingo, 2 de agosto de 2015
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